"Depois do susto de Howarimari, as abelhas subiram às árvores mais altas para se esconder. Passaram a ficar em silêncio e o mel tornou-se mais raro". Não podia ser mais simbólica a história da Irara para nos lembrar da resistência dos yanomami frente à violenta expansão econômica sobre seu território e a invisibilidade imposta aos saberes tradicionais à margem do conhecimento técnico e científico. Poucos organismos representam tão bem as incoerências que têm nos levado à crise contemporânea da biodiversidade. Responsáveis pela polinização de mais de 80% das espécies silvestres e cultivadas, as abelhas viabilizam pelo menos um terço da alimentação humana. Mas estão desaparecendo pelas mãos da própria agricultura, baseada em monoculturas extensivas e no uso indiscriminado de agrotóxicos. Se conhecer a biodiversidade é o primeiro passo para poder conservá-la, os yanomami têm prestado um serviço inestimável ao disponibilizar o rico conhecimento que resguardam sobre as florestas do norte da Amazônia. Já nos ensinaram sobre os remédios tradicionais, sobre fungos, moluscos, peixes e crustáceos. E agora nos brindam com suas valiosas informações sobre as abelhas nativas. Este livro expressa o importante encontro entre saber tradicional e saber científico. Ouvir o que as sociedades indígenas já observaram e processaram, é avançar no entendimento de um sistema diverso e resiliente, possivelmente o único capaz de evitar um colapso. O ISA tem tido papel importantíssimo para essa integração. - Jerônimo Kahn Villas-Boas