De vilarejo isolado redescoberto por artistas como destino idílico durante as décadas de 1960 e 1970 ao turismo em massa dos dias de hoje, a peculiar história de Paraty — único local do Brasil considerado Patrimôno Mundial Cultural e Natural pela UNESCO — tem, na trajetória dos 50 anos de trabalho com cerâmica do paratiense Dalcir Ramiro, uma de suas mais cristalinas traduções: a mistura de forte identidade local com uma grande permeabilidade a influências externas das mais variadas origens e constituições — regionais e transacionais; populares e eruditas —, resultando numa obra que, sem abandonar o lastro na cerâmica popular brasileira e em seus princípios estruturais, como a queima única e a ausência de torno, toma a liberdade de incorporar materiais, técnicas e repertórios formais dos mais distintos. As intervenções gráficas sobre imagens históricas realizadas pelo premiado designer Gustavo Piqueira, também autor do texto, fazem de Dalcir Ramiro, ceramista de Paraty não apenas uma celebração do trabalho do artista, mas uma celebração desta que é uma das mais belas e preciosas cidades do Brasil.