O objeto desta obra é a condição de vida de migrantes nordestinos, sob o enfoque do desejo de estudar e o modo de sobrevivência, que frequentaram a alfabetização “não escolar” na Vila do Areião, no município de Guarujá-SP. A realidade social desses sujeitos revela aspectos da produção da vida material, determinada por condições sociais, políticas e espirituais, que inibem a apropriação dos elementos culturais socialmente elaborados. A partir do estudo das narrativas dos migrantes sobre as vicissitudes do acesso e do não acesso à escolarização e de sua visão sobre as possibilidades de apropriação da leitura e da escrita, procura-se verificar, em contrapartida, se uma organização educativa não convencionalmente escolar, inserida no próprio espaço do sujeito, marcada por rupturas com os critérios rígidos do ensino formal, pode ser uma forma de inclusão social. A abordagem metodológica situa-se no âmbito da pesquisa-ação, consistindo na produção de relatos sobre as trajetórias de vida dos educandos e na realização de Rodas de Diálogos a partir dos depoimentos de alunos. Centrados na contradição entre o desejo de ler e escrever e suas reais experiências de fracasso (seja pela contingência de abandonar a escola, seja por sequer ter tido acesso a ela), os depoimentos, colhidos durante as atividades da alfabetização, deixaram aparecer situações reais de vida e de trabalho destes sujeitos. A utilização da Roda de Diálogo foi uma rica oportunidade para captar conceitos, crenças, sentimentos, atitudes, experiências e reações quanto às categorias levantadas. Os relatos são sistematizados a partir das categorias sobrevivência, trabalho e aprendizagem e analisados à luz de perspectivas críticas da Educação e suas relações com as transformações sociais. Espera-se que esta obra descortine novas formas de alfabetização mais concordantes com a realidade da grande maioria de jovens e adultos excluídos da leitura e escrita.